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domingo, 31 de outubro de 2010

Os princípios básicos da reforma do século XVI

A Reforma do século XVI foi uma volta às Escrituras Sagradas, um retorno à doutrina apostólica. Podemos sintetizar as ênfases da Reforma em cinco pontos distintos e axiais:
1. Sola Scriptura – Só as Escrituras – Os reformadores reafirmaram a supremacia das Escrituras sobre a tradição. A Bíblia é a única regra normativa de fé e conduta. Todas as doutrinas e ensinos forâneos ou estranhos às Escrituras devem ser rejeitados. A autoridade da igreja precisa estar debaixo da autoridade das Escrituras. Nenhum dogma ou experiência pode ser aceito se não tiver base na Palavra de Deus. Eis o que diz o artigo V da Confissão da Igreja Reformada da França, adotada em 1559: “Não é lícito aos homens, nem mesmo aos anjos, fazer, nas Santas Escrituras, qualquer acréscimo, diminuição ou mudança. Por conseguinte, nem a antiguidade, nem os costumes, nem a multidão, nem a sabedoria humana, nem os pensamentos, nem as sentenças, nem os editos, nem os decretos, nem os concílios, nem as visões, nem os milagres, devem contrapor-se a estas santas escrituras; mas, ao contrário, por elas é que todas as coisas se devem examinar, regular e reformar”.
2. Sola Fide – Só a Fé – Os reformadores sublinhavam também a supremacia da fé sobre as obras para a salvação. A salvação não é mérito humano, conquistado pela prática de boas obras, mas é obra de Deus, recebida de graça pelo homem mediante a fé em Cristo. A salvação não resulta da somatória de fé mais obras. A salvação é dom de Deus, recebida exclusivamente pela fé.
3. Sola Gratia – Só a Graça – Os reformadores reafirmaram a doutrina apostólica de que somos salvos pela graça. A graça é um dom imerecido de Deus a nós. O salário do pecado é a morte. Merecemos o juízo, a condenação, o inferno, mas Deus, pela sua infinita misericórdia, suspende o castigo que merecíamos e nos dá a salvação, que não merecemos. Isso é graça!
4. Solo Christu – Só Cristo – Os reformadores rejeitaram peremptoriamente a autoridade do papa sobre a igreja. O papa usurpa o lugar da Trindade. Ele usurpa o lugar de Deus Pai ao ser chamado de Pai da Igreja (Mt 23:9). Ele usurpa o lugar de Deus Filho ao ser chamado Sumo Pontífice (Supremo Mediador). A Bíblia diz que há um só mediador entre Deus e os homens, Jesus Cristo (1 Tm 2:5). Ele ainda usurpa o lugar de Cristo quando ele se auto-intitula a pedra fundamental da igreja sobre a qual a igreja foi edificada. Cristo, e não Pedro, é a pedra fundamental da igreja (Mt 16:18; At 4:11-12; 1 Co 10:4; 1 Pe 2:6-8). Além do mais, o papa não é um sucessor de Pedro, visto que não existe sucessão apostólica. Finalmente, o papa usurpa o lugar do Espírito Santo, quando se autoproclama o Vigário de Cristo na terra (o substituo de Cristo na terra). Essa posição é exclusiva do Espírito Santo (Jo 14:16-17; 16:7-14). O Espírito é o outro consolador que veio ficar para sempre com a igreja. Assim, a reforma resgatou a verdade infalível da supremacia de Cristo como o nosso salvador, mediador e rei. Por causa da obra de Cristo todos os salvos são sacerdotes reais. O sacerdócio universal dos crentes é uma verdade consoladora. Todos temos livre acesso à presença de Deus, por meio de Cristo. Desta forma, cai por terra toda hierarquia espiritual no Reino de Deus.
Soli Deo Gloria – Só a Deus a Glória – Os reformadores reafirmaram a doutrina bíblica de que Deus não reparte sua glória com ninguém. Somente ele deve ser adorado e honrado. Toda glória que é dada ao homem é vanglória, é glória vazia.
Rev. Hernandes Dias Lopes. (retirado do site www.hernandesdiaslopes.com.br)

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

O perigo da passividade da igreja diante da sociedade

Texto At. 19.8-20
Presenciamos atualmente o alto índice de evangélicos emergindo na sociedade brasileira; igrejas de todo tipo e sabor têm desfilado nas cidades e estados da nossa nação. Temos sido testemunhas do crescimento desacelerado do movimento neo-pentecostal e de muitas igrejas emergentes, o que tem sido motivo de um sentimento ufanista por parte de alguns pastores, teólogos e demais cristãos de que, em alguns anos, o Brasil possuirá a maioria de sua população arrolada nas fileiras evangélicas.
No entanto, paralelamente a esse notório “crescimento” do evangelicalismo tupiniquim, observa-se o aumento da criminalidade, da corrupção, da dependência química, especialmente das drogas, da prostituição, os brasileiros tem sido telespectadores do colapso moral e ético em que o Brasil tem sido vítima; os vários meios de comunicação não param de informar a enxurrada de anomalias que a sociedade brasileira tem vivido.
Diante dessa triste realidade uma pergunta se faz notória: se a igreja evangélica está de fato crescendo por que a sociedade não tem sido “pintada” pelas cores do evangelho da graça? Esse paradoxo tem mobilizado muitas pessoas, inclusive pastores e teólogos, a uma reflexão séria desse momento complexo que a igreja evangélica brasileira encontra-se.
Nas páginas do Novo Testamento, especialmente no livro canônico de Atos 19.8-20, verifica-se uma correlação estreita entre a situação social da cidade romana de Éfeso e a situação social atual, a passividade da religião judaica de Éfeso e a passividade da maioria das igrejas evangélicas brasileiras. Por isso, entendo que uma análise do texto acima citado se faz necessário para identificarmos os problemas e as possíveis soluções para a realização de uma transformação da nossa sociedade.
Durante sua terceira viagem missionária Paulo, juntamente com os seus companheiros missionários, resolve aportar no centro religioso de Éfeso. Lucas tem o cuidado de nos informar que aquela cidade possuía uma sinagoga judaica, local onde os judeus se reuniam para cultuarem a Deus e praticarem toda a sua devoção religiosa. Todavia, o historiador sagrado tem a perspicácia de observar que naquela cidade havia muitos enfermos, pessoas endemoninhadas e possessas; Lucas insinua de que aquela sociedade estava submersa em uma vida promiscua, licenciosa e devassa, sem nenhum tipo de escrúpulos, moral e ético. Éfeso era conhecida pelas suas práticas religiosas sincréticas, o elevado número de adeptos ao ocultismo, paganismo e feitiçaria.
E no meio desse caos social, moral e religioso estava uma sinagoga de judeus, com toda a sua liturgia impecável, suas fórmulas de higiene e de dieta intoleráveis e sua teologia legalista, atitudes que mais repulsavam as pessoas do que as atraíam para os braços de Deus, programas que colocavam verdadeiras muralhas diante de uma população gentílica sedenta de Deus. Uma sinagoga que estava passiva diante desse decadente momento social e religioso, uma sinagoga que não influenciava as pessoas que estavam à sua volta, não promovia transformação, nem muito menos restauração espiritual.
No entanto o texto sagrado nos confere as seguintes palavras “E Deus, pelas mãos de Paulo, fazia milagres extraordinários,” (11). O narrador sacro serve-se do termo tychousas (extraordinário), que também pode significar “singular”, “especial” e “notável”, para adjetivar o substantivo “milagres”. Segundo o comentarista John Stott “Ele [Lucas] não os considera típicos, normais, nem mesmo para milagres”. (2008, p. 344).
O apóstolo Paulo não se limitava a expor as Escrituras a alguns judeus e gentios piedosos na sinagoga, nos seus primeiros três meses, e depois, por espaço de dois anos, na escola de Tirano, aos primeiros convertidos daquela cidade, os seus olhos estavam sensíveis à realidade espiritual caótica em que se encontravam uma multidão de pessoas em Éfeso. Deus se faz de Paulo como um instrumento para realizar milagres de cura e exorcismos; havia tanta gente nesta situação, que o apóstolo não estava dando conta da grande demanda de pessoas carentes de restauração e libertação, fato que levou algumas pessoas a solicitarem os aventais ou lenços, de uso pessoa do missionário, para levarem aos enfermos e endemoninhados e os mesmos eram curados e os demônios retiravam-se, não por algo inerente ao lenço ou alguma virtude no apóstolo dos gentios, mas pelo poder de Deus.
Lucas relata que, não havia apenas milagres, curas e exorcismos, ministérios tão propagados e incentivados como fim em si mesmo nos centros neopentecostais, mas havia transformação de vidas, regeneração, mudança de caráter, realidades “fora de moda” em muitos círculos evangélicos. O texto expressa: “Muitos dos que creram vieram confessando e denunciando publicamente as suas próprias obras. Também muitos dos que haviam praticado artes mágicas, reunindo os seus livros, os queimaram diante de todos. Calculados os seus preços, achou-se que montavam a cinquinta mil denários. Assim, a palavra do Senhor crescia e prevalecia poderosamente” (18-20). As pessoas estavam sendo transformadas, conversões genuínas estavam ocorrendo naquela cidade, por intermédio de Paulo. John Stott terce o seguinte comentário em relação a esse texto: “O fato de os recém-convertidos estarem dispostos a jogar seus livros no fogo, em vez de converter o seu valor em dinheiro, vendendo-os, era uma evidência notável da sinceridade de suas conversões.”
Aquela sociedade estava sendo moldada pelo evangelho da graça, e não o evangelho sendo moldado pela sociedade. A igreja evangélica brasileira precisa ser alvo de uma visitação avivalística da parte de Deus, um avivamento que venha colocar em xeque esse “evangelho” barato que tem sido ofertado nos púlpitos de muitas igrejas, um avivamento que produza renovação e não inovação, que frutifique regeneração e conversões em massa ao nosso Senhor Jesus Cristo; uma visitação divina, como bem profetizou Isaías, “Porque derramarei água sobre o sedento e torrentes, sobre a terra seca; derramarei o meu Espírito sobre a tua posteridade e a minha benção, sobre os teus descendentes; e brotarão como erva, como salgueiros junto às correntes das águas.” (44.3,4).
A nossa oração é que, como chuva serôdia, a graça divina caia sobre a sua igreja, expurgando todo pensamento e atitudes espúrias, egoísticas; retirando o homem do centro e cedendo lugar à presença majestosa do Espírito Santo para que possamos ver de fato o nosso país colorido pelas cores do evangelho da graça de Deus. Que Deus nos abençoe.
Por Daniel Novais